domingo, 15 de março de 2015

O Presente percebido por Liberais, Conservadores, Céticos, Radicais e Reacionários (Por Eric Hoffer)



É interessante comparar aqui as atitudes em relação ao presente, futuro e passado mostrado pelo conservador, o liberal, o cético, o radical e o reacionário. 

O conservador duvida que o presente possa ser melhorado, e ele tenta moldar o futuro na imagem do presente. Ele vai ao passado para se tranquilizar sobre o presente: "Eu queria o sentido de continuidade, a garantia que os nossos erros contemporâneos eram endêmicos na natureza humana, que os nossos novos modismos eram heresias muito antigas, que as coisas queridas ameaçadas fizeram estremecer não menos fortemente no passado." Como, de fato, o cético é parecido com o conservador! "Existe alguma coisa que se possa dizer: Veja, isso é novo? Isso já esteve nos tempos antigos, muito antes de nós." Para o cético, o presente é a soma de tudo o que foi e que será. "O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol."  O liberal vê o presente como filho legítimo do passado que está constantemente crescendo e desenvolvendo em direção um futuro melhor: danificar o presente é mutilar o futuro. Todos os três, então, valorizam o presente, e, como é de se esperar, eles não aceitam de boa vontade a ideia de auto sacrifício. Sua atitude em relação ao auto sacrifício é melhor expressa pelo cético: "melhor um cão vivo do que um leão morto. Pois o vivo sabe que morrerão: mas o morto não sabe de coisa alguma...  Já não possuem parte alguma de qualquer coisa que se faz debaixo do sol."

O radical e o reacionário detestam o presente. Eles têm o passado como uma aberração e uma deformidade. Ambos estão prontos para prosseguir sem piedade e de forma imprudente com o presente e ambos são favoráveis a ideia de auto sacrifício. Onde então eles diferem? Principalmente na sua visão da maleabilidade da natureza do homem. O radical tem uma fé apaixonada na perfectibilidade da natureza humana. Ele acredita que mudando o ambiente do homem e aperfeiçoando a técnica de formação da alma, a sociedade pode ser forjada de maneira totalmente nova e sem precedentes. O reacionário não acredita que o homem possui potencialidades insondáveis pelo bem. Se uma sociedade estável e saudável deve ser estabelecida, ela deve ser moldada através de modelos comprovados pelo passado. Ele vê o futuro como uma restauração gloriosa, em vez de uma inovação sem precedentes.

Na realidade, a linha divisória entre radical e reacionário nem sempre é distinta. O reacionário manifesta o radicalismo quando ele tenta recriar seu passado ideal. Sua imagem do passado é baseada menos sobre o que realmente era do que sobre o que ele quer que o futuro seja. Ele inova mais do que ele reconstrói. Uma mudança semelhante ocorre no caso do radical quando vai construir seu novo mundo. Ele sente a necessidade de uma orientação prática, e desde que ele rejeitou e destruiu o presente, ele é obrigado a ligar o novo mundo com algum ponto do passado. Se ele tem que empregar a violência na formação do novo, a sua visão da natureza do homem escurece e se aproxima mais àquela do reacionário. A mistura do reacionário e o radical é particularmente evidente naqueles envolvidos em um renascimento nacionalista. Os seguidores de Gandhi na Índia e os Sionistas na Palestina ressuscitavam um passado glorioso e, simultaneamente, criavam um a Utopia sem precedentes. Os profetas também, são uma mistura de reacionário e radical. Eles pregaram o retorno a uma antiga fé e também visavam um novo mundo e uma nova vida.

Retirado do livro The True Beliver por Eric Hoffer 

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