quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O Espiritismo e as Pesquisas Psíquicas (Por Julius Evola)

A faculdade atribuída a mediunidade pode definir-se como um método que promove ou aumenta a desintegração da unidade interna da pessoa. O homem, como médium, tendo sido parcialmente livre seu corpo de um certo grupo de elementos mais débeis, trona-se um instrumento de manifestação em nosso mundo de forças de natureza extremamente diversificada, mas sempre inferiores ao seu caráter pessoal. O médium não pode de forma alguma controlar essas forças e influências, pois sua consciência alcança apenas os efeitos, ou definitivamente cai em sono, em transe ou catalepsia.

Eis um dos problemas discutidos na metapsíquica em relação aos fenômenos extranormais: como se deve explicar as faculdades, estão essas ligadas ao médium e outros sujeitos, ou se deve atribuir a agentes externos, extra-individuais? Esta questão perde grande parte de sua importância quando se trata do inconsciente ou subconsciente, já que, por definição, é a parte inferior da pessoa, isto é, uma região psíquica na qual o que é individual e o que não é, se encontra separado por uma fronteira muito tênue que pode se estender e penetrar por áreas povoadas por toda classe influências,  a "pensamentos errantes" e até a forças que nem sempre tem uma correspondência com o mundo dos seres encarnados e a realidade sensível.
  
Mais recentemente, na metapsíquica, as hipóteses estritamente espiritistas dos primeiros tempos são consideradas como primitivas e superadas. Entretanto, caíram no extremo oposto, porque em certos casos particulares de manifestação mediúnica, consideram que entre as influências discutidas, pode-se encontrar também os "espíritos" dos mortos, dando ao termo "espíritos" um sentido antigo, estando tremendamente equivocados ao dar o mesmo sentido de "alma". Os "espíritos" são as energias vitais, classificadas em sentidos mentais (memórias, conjunto de ideias, etc), sentidos "orgânicos", ou sentidos "dinâmicos" (impulsos, complexos volitivos, hábitos, etc); são essas energias que, se a alma sobrevive a morte, deixa para trás, assim como deixou para trás o cadáver físico, cujo os elementos passam ao estado livre. Estes elementos vitais também se tornam livres como o restos do cadáver, privados da unidade essencial do ser entorno do qual estava organizado sob a forma de "segunda personalidade", ou muitas vezes, e de forma mais simples, como elementos complexos de memórias, como monodeismo e potencialidades cinéticas convertidas em formas impessoais. Esses passam a encarnar no médium e através delas, ocorre algumas variedades de fenômenos extranormais, que os ingênuos tomam como provas experimentais da sobrevivência da alma. Na verdade, neste caso se trata de formas vitais que estão destinadas a extinguir-se em um determinado prazo, mais ou menos breve; não se trata da alma, no sentido real e tradicional do termo.

Não só isso. Há casos em que as forças não-humanas se encarnam nesses resíduos como algo semelhante ao falecido por uma espécie de "duplo" que os animam e movem provocando aparições e fenômenos que podem induzir ao erro, ao mesmo tempo, possuem um caráter sinistro quando a verdadeira natureza de tais forças que condensam esses resíduos larvais e automáticos são descobertas. Portanto, são estes os casos em que se dá destaque ao espírita, o incentivo para converter-se a uma nova e macabra religião a qual não percebem todo o escárnio e sedução nas manifestações desta espécie, as quais, sem exagero, poderiam ser definidas como satânicas.

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Voltando ao espiritismo, e de acordo com as considerações acima, é necessário dizer que não se trata de "espíritos", mas aos chamados resíduos psíquicos desindividualizados ou as espécies de "larvas", máscaras e copias de personalidades vitalizadas por influencias inferiores. A possibilidade para que uma alma venha excitar e fortalecer a fé nos círculos espíritas ou dar mais material colecionadores de "fenômenos" metapsíquicos, é tão rara que, a priori, você pode excluí-la.

As almas residem em regiões (ou estados) espirituais tão transcendentes que não possuem nenhuma relação com o mundo dos corpos, com a sociedades e sentimentos dos homens. E se caso tomarem uma "missão" para abandonar esses estados para qualquer evento nas condições do tempo e espaço, o último lugar em que a manifestação deveria ir seria entre os fenômenos que caem nas mãos dos metapsíquicos e espíritas: fenômenos insistentes, sem finalidades, confusos, desprovidos de qualquer grandeza, muitas vezes de zombaria, intelectualmente inferiores, no meio do quais encontra-se tão somente pessoas de cultura mediana deste mundo.

Guenon afirma, com razão, que a natureza desses fenômenos não deveriam deixar dúvida alguma sobre as forças que os produzem. Além disso, a mistura de repercussões orgânicas e de outros elementos ou imagens fornecidas pela parte irracional e infraconsciente dos evocadores e dos médiuns, não se trata nem de almas dos mortos, nem de influencias verdadeiramente sobrenaturais, mas de forças e complexos psíquicos que vagam no infra-humano mais ou menos relacionado com o elemento "inferior" da natureza; ou se tratam de larvas e de resíduos que não pertencem a almas elevadas; ou produtos da decomposição das almas que sem dúvida não sobreviveram.

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Os antigos, os orientais, e até mesmo certos povos considerados "primitivos" conheciam mais essas coisas do que todos os espíritas e presidentes das "sociedades de pesquisas psíquicas". Por isso, a evocação dos mortos quase sempre era condenada como um crime grave. Eles buscavam viver permanentemente longe dos restos espirituais dos mortos; ou agiam para "apaziguá-los". Haviam motivos em muitos dos ritos funerários tradicionais, os quais não se reduziam a meras "cerimônias", os quais exerciam ações efetivas contra as forças psíquicas que se encontravam em estado livres com a destruição dos corpo físico. As trocas, não com os resíduos, mas com as almas dos mortos, chegando a "revelações" eram consideradas absurdas. Ainda hoje, quando se fala a um lama que os ingleses acreditavam em coisas de tal índole, respondem: "E estas são as pessoas que conquistaram a Índia!"

A Máscara e a Face do Espiritualismo Contemporâneo - Julius Evola


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"Estas forças incluem aquelas que, por sua natureza, estão mais próximas do mundo corporal e das forças físicas, e que, por conseguinte, manifestam-se mais facilmente ao tomar contato com o domínio sensível pela mediação de um organismo vivo (o de um médium) ou por qualquer outro meio. Essas forças são precisamente as mais inferiores de todas, e, por conseguinte são aquelas cujos efeitos podem ser os mais funestos e que deveriam ser evitados o mais cuidadosamente; na ordem cósmica, correspondem ao que são as regiões mais baixas do «subconsciente» no ser humano. Todas as forças genericamente denominadas pela tradição extremo-oriental como «influências errantes» devem ser agrupadas aqui, forças cujo manejo constitui a parte mais importante da magia, e cujas manifestações, às vezes espontâneas, dão lugar a todos esses fenômenos dos quais a «obsessão» é o tipo mais conhecido; são, em suma, todas as energias não-individualizadas, e as há, naturalmente, de muitos tipos. Algumas dessas forças podem chamar-se verdadeiramente «demoníacas» ou «satânicas»; são essas, concretamente, as que põem em jogo a bruxaria, e as práticas espíritas podem as atrair também freqüentemente, embora involuntariamente; o médium é um ser cuja constituição desafortunada põe em relação com tudo o que existe de menos recomendável neste mundo, e inclusive nos mundos inferiores. Nas «influências errantes» deve compreender-se igualmente tudo o que, provindo dos mortos, é suscetível de dar lugar a manifestações sensíveis, já que se trata de elementos que já não estão individualizados: tal é o caso do Ob, e todas outras, esses são elementos psíquicos de menor importância que representam «o produto da desintegração do inconsciente (ou melhor, do “subconsciente”) de uma pessoa morta»; adicionaremos que, no caso de morte violenta, o Ob conserva durante um certo tempo um grau muito especial de coesão e de quase vitalidade, o que permite explicar um bom número de fenômenos."

René Guénon - O Erro Espírita 




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