quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Príncipe Charles e o Tradicionalismo

Temenos foi desde o início, de certo ponto, um jornal Tradicionalista. O jornal atraiu a atenção de Sir Laurens van der Post, um amigo Sul Africano e seguidor de Jung e previamente ambientalista. Van der Post foi por muitos anos um amigo próximo ao Príncipe Charles, o herdeiro do trono Britânico, e tem sido visto como um mentor espiritual do Príncipe Charles. Em 1992, van der Post mostrou o jornal Temenos ao Príncipe, que gostou o suficiente para querer conhecer Raine, a fundadora do jornal. O Príncipe, em seguida, incentivou-a para criar a Academia Temenos, fazendo parte da Fundação do Príncipe, um órgão que atua como um guarda-chuva de seus projetos culturais.

Príncipe Charles é mais anti-modernista do que um tradicionalista, embora, evidentemente, admira Burckhardt e suas influencias Tradicionalistas são cada vez mais visíveis em alguns de seus discursos. Em 2000, por exemplo, na sua posição de Alto Comissário da Igreja da Escócia, o príncipe Charles se dirigiu à Assembléia Geral da Igreja, como segue:

"Estamos cada vez mais imersos em uma era secular que está em perigo de ignorar, ou esquecer, todo o conhecimento do sagrado e espiritual, e todos os princípios de ordem e harmonia que se encontram no centro do universo... Tenho o maior respeito pelos trabalhos da mente racional... mas o risco inerente... é que estamos em perigo de desequilibrar nossas vidas... A Tradição e a sabedoria perene que subjaz nosso mais profundo entendimento do mundo visível e invisível, está sendo desvalorizada ou ignorada."

O Tradicionalismo pode também estar por trás de uma abordagem do Islam que é muito mais simpática do que é na vida pública britânica. Em 1993, em um discurso dado na abertura do Centro Oxford para Estudos Islâmicos, do qual o Príncipie Charles é patrono, ele falou vigorosamente contra os mal-entendidos e os temores ocidentais ao Islam, sublinhando a importância da "visão monoteísta comum" do Islam e do Cristianismo e falando sobre a necessidade de "além de uma dimensão materialista, uma dimensão metafísica nas nossas vidas". A reação a esse discurso mostra as dificuldades encontradas pelo Tradicionalismo Suave em todos lugares: o jornal de circulação em massa, Evening Standard, informou sobre o discurso sob o título  "Charles ataca as mentiras de Saddam Hussein", concentrando-se em uma referência local e ignorando a substância quase inteiramente  a substância do discurso do Príncipe Charles. Não foi todos os jornais britânicos que tomaram essa linha, é claro, mas no final, o dicurso fez mais a imagem do Príncipe Charles no mundo islâmico do que para a imagem do Islam na Grã-Bretanha.

A organização mais importante dentro da Fundação do Príncipe do Instituto Temenos é o Instituto de Arquitetura do Príncipe Walles (fundada em 1992), que, como o próprio Príncipe  é mais anti-modernista do que Tradicionalista. A outra organização educacional, entretanto é, inteiramente Tradicionalista. Este é o Programa de Artes Islâmicas Visuais e Tradicionais (VITA), que foi fundada em 1984 por Keith Critchlow e se juntou a Fundação do Príncipe em 1993. VITA oferece o mestrado em artes, mestrado em filosofia e cursos de pós doutorado, atraindo certa de vinte estudantes por ano. Os cursos são extremamente práticos, ensinando os alunos a produzirem trabalhos impressionantes - miniaturas seguindo o padrão Mogul, telhas seguindo o padrão Ottomano e mosaicos com caligrafia e geometria de inspiração Islamica. Na medida em que o elemento teórico  é puramente Tradicionalista - obras do Guenon, Schuon, Coomarasawamy e outros escritores do tipo. Os tutores de visita incluía Nasr e Lings. As reações de alunos do VITA para o componente Tradicionalista do seu curso variam: alguns sentem que foram enganados (não é isso que eles se inscreveram), alguns aceitam uma abordagem Tradicionalista às artes, em maior ou menor grau, e alguns são suficientemente interessados em ir mais longe, ocasionalmente ingressar Maryamiyya, que é bem representado entre os docentes VITA.

[...]


Existe limites, entretanto, o que mesmo o Príncipe Charles pode fazer pelo Tradicionalismo no Ocidente contemporâneo. A maior parte da imprensa popular britânica recebe rotineiramente seu ponto de vista e suas atividades com uma mistura de hostilidade e ridicularização, mesmo em um artigo simpático pode terminar da seguinte forma: "É evidente que alguns de seus súditos estão cientes que as teorias do Príncipe Charles são estranhas, se não malucas. O aspecto filosófico e espiritual de sua cruzada [contra o materialismo] é considerada ou constrangedora ou sem sentido em algumas partes do reino."


Trecho do livro Contra o Mundo Moderno: Tradicionalismo e a História Secreta do Intelectualismo do Século XX - Mark Sedgwick 

Nenhum comentário:

Postar um comentário