sexta-feira, 5 de julho de 2013

O Erro do Progresso

John N. Gray no livro Cachorros de Palha

Para George Bernard Shaw, a Alemanha nazista não era uma ditadura reacionária, mas um herdeiro legítimo do Iluminismo europeu.


O Nazismo era um retalho de idéias, incluindo as filosofias ocultistas que eram contrárias a ciência moderna. Mas enganam-se aqueles que este seja inequivocamente hostil ao Iluminismo. Na medida em que foi um movimento dedicado à tolerância e à liberdade pessoal, Hitler abominava o Iluminismo. Ao mesmo tempo, como Nietzsche, ele compartilhou a ideia que o Iluminismo trouxe grandes esperanças para a humanidade. Através da eugenia positiva e negativa - a criação de humanos de elevada qualidade e eliminando aqueles julgados inferior - a humanidade se tornaria capaz de as enormes tarefas pela frente. Sacudindo as tradições morais do passado e sendo purificada pela ciência, a humanidade seria dona da Terra. A visão de Shaw do nazismo não era tão rebuscada. Ele fez coro com a auto-imagem de Hitler como um progressista destemido e modernista.

Shaw entendia tanto a União Soviética e a Alemanha nazista como regimes progressistas. Como tal, ele sugeria que estes tinham o direito de desobstruir matando pessoas inúteis. Ao longo de sua vida, o grande dramaturgo argumentou em favor do extermínio em massa como uma alternativa à prisão. Era melhor matar o socialmente inútil, ele dizia, do que desperdiçar dinheiro público em prendê-los.

Não era apenas um gracejo Shawaniano. Em uma festa em honra do seu septuagésimo quinto aniversário realizado em Moscou durante sua visita à URSS, em agosto de 1930, Shaw disse à sua audiência meia esfomeada que, quando soube que ele estava indo para a Rússia seus amigos tinham fornecido a ele alimentos enlatados, mas - brincou - jogou tudo para fora da janela na Polônia antes de chegar à fronteira soviética. Shaw provocou a platéia com pleno conhecimento de suas circunstâncias. Ele sabia que as fomes soviéticas eram artificiais. Mas olhava alegremente para suas vítimas pois tinha a convicção que o extermínio em massa era justificado se há um avanço da causa do progresso.

A maioria dos ocidentais não entendiam a lucidez de Shaw. Eles não podiam admitir que o maior assassinato em massa dos tempos modernos - talvez em toda a história humana - estava ocorrendo em um regime progressivo. Entre 1917 e 1959 mais de 60 milhões de pessoas foram mortas na União Soviética. Esses assassinatos em massa não estavam escondidos: eram políticas públicas. Heller e Nekrich escreveram:
“Não há dúvida de que o povo soviético sabia sobre os massacres no campo. Na verdade, ninguém tentou esconder. Stalin falava abertamente sobre a 'liquidação dos kulaks como classe", e todos os seus tenentes ecoavam ele. Nas estações de trem, os moradores da cidade podia ver as milhares de mulheres e crianças que haviam fugido das aldeias que estavam morrendo de fome.”

Às vezes se perguntam como que os observadores ocidentais eram tão lentos em reconhecer a verdade sobre a União Soviética. A razão não era difícil de se encontrar, ficou claro a partir de centenas de livros de emigrantes sobreviventes - e de declarações dos próprios soviéticos. Mas os fatos eram muito desconfortáveis para os ocidentais a admitirem. Por uma questão de manter sua paz de espírito, eles preferiam negar o que eles sabiam ou suspeitavam da verdade.  

"A escala de morte desenvolvida pelo homem é o fato moral e material central do nosso tempo", escreve Gil Elliot. O que faz o especial do século XX não é o fato de que está repleto de massacres. É a escala de suas mortes e o fato de que eles foram premeditados visando grandes projetos de melhoramento do mundo.

O progresso e os extermínios andam lado a lado. O número de mortos por grandes fomes e pragas podem ter diminuído, mas a morte pela violência tem aumentado. Com o avanços da ciência e da tecnologia, também há um avanço na proficiência em matar.  A esperança de um mundo melhor tem crescido, assim como os assassinatos em massa.

Citações do Bernard Shaw:

"Vocês devem saber que meia dúzia de pessoas não tem uso para este mundo, que não valem a pena por tanto trabalho. Basta colocá-los lá e dizer: Senhor, ou Madame, você poderia ser bom o suficiente para justificar sua existência?

Se você não pode justificar a sua existência, se você não está puxando o seu próprio peso, e uma vez que você não está, se você não está produzindo o tanto quanto você consome, ou talvez um pouco mais, então, fica evidente, não podemos usar o organizações da nossa sociedade com a finalidade de mantê-lo vivo, porque a sua vida não nos beneficia e não pode ser de muito uso nem pra você mesmo."

Em vídeo - http://www.youtube.com/watch?v=7WBRjU9P5eo

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