sábado, 29 de junho de 2013

Sobre a Escrita e o Estilo (Arthur Schopenhauer)

Não há nenhum erro maior do que o de acreditar que a última palavra dita é sempre a mais correta, que algo escrito mais recentemente constitui um aprimoramento do que foi escrito antes, que toda mudança é um progresso. As cabeças pensantes, os homens que avaliam corretamente as coisas são apenas exceções, assim como as pessoas que levam os assuntos a sério. A regra, em toda parte do mundo, é a corja de pessoas infames que estão sempre dispostas, com todo empenho, a piorar o que foi dito por alguém após o amadurecimento de uma reflexão, dando a essa piora um aspecto de melhora. 

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De fato elas foram, mas como? Com frequência, o escritor não entende a fundo os livros anteriores, além do mais não quer usar exatamente as mesmas palavras, de  modo que desfigura e adultera o que estava dito neles de modo muito mais claro e apropriado, uma vez que foram escritos a partir de um conhecimento próprio e vivido do assunto.

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Já ocorreu muitas vezes de um livro anterior excelente ser substituído por novos, piores, escritos apenas para ganhar dinheiro, mas que surgem com aspirações pretensiosas e são louvados pelos camaradas dos autores. Nas ciências, cada um quer trazer algo novo para o mercado, com o intuito de demonstrar seu valor; com frequência, o que é trazido se resume a um ataque contra o que valia até então como certo, para pôr no lugar afirmações vazias. Às vezes, essa substituição tem êxito por um breve período, em seguida todos voltam às teorias anteriores. Os inovadores não levam nada a sério no mundo, a não ser sua preciosa pessoa, cujo valor querem provar.

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Em quase todos os tempos, tanto na arte quanto na literatura, entra em voga e é admirada alguma noção fundamental falsa, ou um modo falso de se expressar, ou um maneirismo qualquer. As cabeças triviais se esforçam ardentemente para se apropriar de tal noção e exercitar tal modo. O homem inteligente reconhece e despreza essas coisas, permanecendo fora de moda. Contudo, após alguns anos, o público o segue e reconhece a farsa como o que ela era, ridicularizando a moda, e dessa maneira cai por terra a maquiagem, antes admirada, de todas aquelas obras amaneiradas, como um reboco malfeito cai de uma parede com ele revestida. As obras passam a ficar expostas da mesma maneira que esse muro. Assim, as pessoas não devem se irritar, mas se alegrar quando uma noção fundamental falsa, que durante muito tempo operou em silêncio, é exposta de modo claro, em voz alta. Pois só então sua falsidade será logo sentida, reconhecida e, finalmente, proclamada. É como um abscesso que se rompe.

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